Como voltar a surfar depois da gravidez

03/05/2021
    • Langai



  • Bom, eu não me lembro muito bem, quando exatamente comecei a surfar. Sei que faz um tempo considerável, na época (já me sentindo um pouco velha kkk) haviam poucas mulheres na água, principalmente em dias de mar maior, eu muitas vezes fui a única mulher na água. Vi esse numero só aumentar ao longo dos meus anos de surf, o que me trouxe mais amigas e ainda mais conexão com o esporte. 

    Lembro que meu primeiro contato eu estava na faculdade, era surfista de fim de semana, indo religiosamente todos os finais de semana para Ubatuba, litoral norte paulista.


    _pensava que passaria a minha aposentadoria nessa cidade encantadora, mas quando peguei meu diploma pensei comigo "porque esperar?"


    E me mandei para as terras Ubatubanas, rica em ondas, praias incríveis, cachoeiras escondidas, pássaros coloridos, tudo bem magico, bem natural, bem simples, bem cheio de vida. 

    "Ubatuba terra que só cheira amor...." já ouviu essa? (Xote de Ubatuba) Para mim essa musica tem todo sentido, afinal conheci o Nilão, meu marido e pai da minha filha, no mar da Vermelhinha do Centro. Contrariando todos os planos de vida da vida tradicional social, já que as coisas aconteceram bem rápido entre nós. Digo isso, porque fomos morar juntos com 4 meses de namoro e com um aninho de relacionamento, em um dia friozinho no mar, senti meuis peitos extremamente doloridos ao ponto de ter que sair da água. "Deve ser apenas os sintomas do meu período", pensei comigo.


    _mas o período não veio kkkk depois de uma fase de negação e falas do tipo "é só esperar que vai vir", veio...


    Veio enjoo, veio muito sono, veio sintomas inegáveis de uma possível gravidez, e veio finalmente o teste de farmácia positivo confirmando nossas (minhas) suspeitas, o Nilão (meu marido) passou por um dia meio silencioso, até a manhã seguinte somente... A partir daí ele contou para o padeiro, porteiro, vizinho, cachorro e qualquer outro ser vivo que pudesse ouvir dele as palavras "eu vou ser papai".

    E aqui começa a parte chata, aquele momento da história feliz que a gente vê que a vida não é feita só de flores. Pouco depois de descobrirmos a nossa gravidez eu comecei a ter sangramentos. Fomos as pressas para o primeiro ultrassom. E bateu um clima estranho na sala. O médico anunciou que se tratava de uma gestação gemelar, mas que um dos sacos gestacionais não iria para frente, e que ele já estava no processo de aborto espontâneo do corpo, por isso eu estava tendo sangramento. Sim, é triste, seria muito especial ter gêmeos. Mas não vou me aprofundar muito nesse assunto. O fato é que, por esse motivo, a minha gravidez foi considerada uma gravidez de risco e a partir desse dia, com três meses de gestação, não pude mais surfar, correr, andar de bike... O repouso foi absoluto até os 6 meses de gestação, quando fui liberada para fazer caminhadas e yoga gentil.


    _foi bem difícil, tudo na minha vida era movimento e esporte. O surfe que me fez inclusive mudar de cidade, profissão e amigos, e que é um elo muito importante entre mim e o meu marido, foi privado de mim.


    Nem pensei em contrariar o médico, já que o notícia de que aquele sangramento poderia ter sido um de nossos filhos mexeu conosco. Então aceitamos, cuidamos, nos adaptamos. Momentos de fragilidade como esse são muito comuns e valiosos. Quando as coisas saem do nosso controle, dos nossos planos, são essas oportunidades que a vida nos traz para repensarmos valores e necessidades, para filtramos nossas expectativas de perfeição! Já que comum mesmo é o inesperado, são os desvios, as montanhas pelo caminho. E a vida é absolutamente maravilhosa do jeitinho que ela é.  

    Passar por tudo isso só nos fez mais unidos e, no meu caso, nem por um segundo pensei que seria melhor de outra forma. A Ana Lua não foi planejada, mas foi muito desejada e amada desde o forninho, tomei todos os cuidados para que minha gravidez seguisse saudável, senti muito carinho e acolhimento das pessoas ao meu redor, e isso foi muito importante para mim.

    Quando nossa pequena babysurf chegou, com uma semana de vida ela já estava na praia, contrariando a vontade de alguns familiares... O contato dela com a praia, o mar e a natureza aconteceu de forma muito natural e muito cedo. Com um mês de vida da Lua nos mudamos para o interior de São Paulo devido a qualidade de vida. Uma decisão difícil, mas nossa essência não mudou, continuamos indo para praia todos os finais de semana possíveis. 


    _meu grande desafio depois da cesárea... foi voltar a surfar! Um ano sem me jogar na água fez a volta ao surf quase tão difícil quanto começar a aprender.


    Digo isso porque quando não sabemos algo, estamos diponiveis a observar tudo, aceitar o passo a passo. Mas quando voltei foi um pouco desanimador, dava cada comando simples e meu corpo simplesmente não me obedecia, tipo: dropaaa! E o pé não chega tão rápico no lugar e bummm: caldo... mas é aquilo, basta decidir... Então tudo se torna mais fácil... Basta decidir ir pra água, o mínimo progresso conta, com o tempo eu acumulo esses pequenos progressos até eles se transformarem em uma grande onda.

    Enquanto isso sigo surfista de marola. Com ajudinha extra ainda do maridão, que está ainda mais paciente e parceiro. Mas o ser mãe me trouxe uma maturidade que jamais adquirira sozinha, me fez aproveitar ainda mais o agora, o tempo passa rápido, tenho apenas uma certeza e é o quanto as coisas são transitórias, não existe maior amor do que aquele sentimento pelo nossos filhos. Descobri sentimentos novos que nem existem no dicionário e que deveriam ser nomeados. Outro dia a Lua tinha um sorrisinho banguela e hoje já tem 8 dentinhos preenchendo... O tempo e implacável, então que sejamos breves em nossos pesares e deixemos as coisas mais leves...

    Hoje me preocupo menos com a minha performance. Isso foi muito importante para mim, já que no dia que meu surf não rendia, antes da maternidade, eu emburrava e muitas vezes descontei no Nilão minhas frustrações. Engraçado como a chegada da Lua mudou isso de forma tão natural, agora só me preocupo em me divertir e ter um tempinho gostoso no mar, toda valinha é comemorada!


    _o tempo de surf é menor, mas quando não estou na água, esse tempo é muito bem investido em amor, atenção a um bebê que tem crescido muito rápido, e jajá vai estar no mar com a gente.


    Eu não sei, me disseram muitas coisas sobre a maternidade, que ficamos sem dormir, que abrimos mão das coisas... e realmente, não é nada fácil, mas também dobramos nossas forças, tomamos uma direção, as decisões são feitas com mais certeza, compreendemos mais os nossos pais, deixamos de lado mágoas passadas. Ser mãe e ser pai nos torna responsáveis, damos, doamos tudo, tempo, esforço, de forma genuína, não existe uma moeda de troca, é apenas amor, é espontâneo, quando vemos estamos abrindo mão de alguns sonhos para ver a Lua sonhar os dela. Ou sei lá, apenas adiando um pouco, multiplicando as possibilidades.

    Tento não romantizar demais as coisas, só que minha família é a coisa mais divina de linda que já fiz na minha vida todinha e desde então há borboletas e fadinhas coloridas em tudo que vejo kkkk Entendam: Nada absolutamente coisa nenhuma nesse mundo é maior do que amor que tenho pela minha filha, meu marido e meu pitbull! E pensar que o surf me proporcinou esse encontro, mas o que sustentou foi mesmo o amor que temos dentro de nós.

    Beijos e boas ondas,
    Nicole


     
    Leia também: Mitos e verdades: surf, gravidez e maternidade
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