Maternidade e surf

06/05/2021
    • Langai



  • _quando começou sua relação com o surf?
    Eu cresci a maior parte da minha infância e adolescência em Curitiba, mas passava alguns períodos de férias e finais de semana no litoral do Paraná, onde vivem minha avó e outros familiares paternos. Sempre fui apaixonada pelo mar e esse despertar para o surfe veio quando eu tinha uns 13 anos, admirava o esporte, sentia muita vontade de experimentar, mas só aos 16 tive essa primeira vivência.

    Caí algumas poucas vezes com uma prancha de bodyboard junto do meu primo que já praticava essa modalidade, mas o que eu queria mesmo era saber como andar em pé nas ondas. Eu frequentava muito o pico de Matinhos na época, que tem ondas perfeitas (e também muito local bom quebrando tudo nelas!), nessa época em que me apaixonei pelo esporte, já tinham algumas meninas que surfavam muito bem ali, lindas, me inspiravam a aprender, achava tudo maravilhoso, mas ainda tinha a barreira de viver na capital há duas horas do litoral.

    Em uma dessas férias de verão me matriculei numa escolinha de surf para crianças e adolescentes, um projeto criado pelo ex-ct Peterson Rosa, que pegou atletas locais para darem as aulas, uma equipe experiente, foi um período bem bacana, o nascimento de uma nova paixão, um novo amor dentro de mim. A partir daí, comecei a pensar como faria para morar na praia rs...

    Esse meu encantamento com o mar, a vontade de conhecer os segredos dos oceanos, o surfe, tudo foi se unindo e aos 18 anos passei no vestibular para Oceanografia (na época o curso se chamava Ciências do Mar), na UFPR. O campus do curso era em Pontal do Paraná, litoral, pertinho da Ilha do Mel. Juntei o útil com o agradável e esse foi o marco para incluir o surfe na minha rotina diária, graças a Deus! Hoje, com 37, quase 38, tive muitas idas e vindas no esporte, 2 filhos nesse meio tempo, mestrado, trabalhos, mudanças, projetos, pausas, retornos... mas com a certeza de que sempre voltaria, porque é algo que vem da alma, do coração, que só fez bem, que cura, que não deixa ficar longe por muito tempo.

    Esse convite da Langai é para falar de maternidade e surfe e a dica de ouro que eu daria de imediato é que devemos aceitar as nossas limitações em alguns períodos da vida, como a dedicação com filhos bebês, uma fase que exige muito das mães e nem sempre, como eu no caso, há uma estrutura ao redor que permita com que você siga praticando suas atividades como antes da vida maternal. Eu já me frustrei muito nas pausas, mas não vale a deprê, é engraçado, mas quanto mais velha, mais apaixonada fico pelas ondas, quero seguir nessa vida até velhinha, não me vejo parando nunca, pelo menos enquanto eu tiver saúde para isso.


    _o que você lembra de pensar ou reagir quando descobriu que estava grávida?
    Como as duas gestações não foram planejadas, de início foi aquele sustinho, uma insegurança de não dar conta... Ao meu ver, uma reação absolutamente natural para muitas mães, a gente sempre acha que ainda não está preparada, que tem que esperar algum grande acontecimento para optar pela maternidade e aí eles vêm e a vida ensina, faz aquela reviravolta e nos presenteia com o maior amor de nossas vidas, transmutando qualquer medo, reforçando nossa coragem.


    _até quantos meses da gravidez você surfou?
    Na gestação da minha primeira filha não surfei, mas praticava natação. Com meu caçula, surfei até o sexto mês, mas numa frequência bem menor, pois desenvolvi hiperemese gravídica durante todo meu período gestacional. Vomitava muitas vezes ao dia, a noite, na madrugada... essa parte foi bem difícil de lidar, era impossível ter uma vida normal. Eram caídas rápidas, me sentia fraca, mas o mar, mesmo que em doses homeopáticas, me fazia muito bem. Depois que a barriga foi ficando maior, me sentia desconfortável em cima da prancha e pausei.


    _e depois do parto, como foi voltar a surfar?
    Para mim sempre foi um processo lento esse de retornar. Quando tive minha filha mais velha, estava terminando um mestrado em Curitiba, distante do mar, mãe de primeira viagem com uma bebezinha linda que mamava muito e não dormia a noite, passando por uma separação. Fiquei 4 anos afastada do surfe, coração doía de saudade, mas sabia que era só uma pausa temporária, quando retornei, sentia ainda mais amor pelo esporte. A segunda pausa veio com a segunda gestação. Estou voltando para o mar agora, depois de quase 2 anos afastada. Me sinto muito feliz por ter esse tempinho para mim, cuidar do corpo e da mente, estar no mar novamente. Algo que priorizo nessa minha carreira de mãe-solo que não é fácil de gerenciar, mas a gente acaba dando conta do recado e aos poucos reconquistando nossos espaços.


    _queremos saber: 3 coisas que você não pensa ou não te contam antes de ser mãe ahahahah
    1) Que você nunca mais vai dormir rs;

    2) Que tem dias que a gente vai sentir vontade de fugir de casa, das crias e tá tudo bem, faz parte;

    3) E que você vai aprender o real sentido do amor incondicional, da doação, da entrega, da caridade e da coragem que o despertar para a maternidade traz, são muitas novas lições de amor, responsabilidade, crescimento e amadurecimento.


    _qual foi a mudança mais intrínseca ou o maior aprendizado que você sentiu depois de ser mãe?
    Que o amor de mães e filhos é algo divino, maravilhoso e inexplicável. E que temos em nossas mãos uma oportunidade única de formarmos seres humanos melhores para o mundo, através dos nossos bons hábitos e exemplos.

    Beijos e boas ondas,
    Ju | A Ju tem 37 anos, mora em Itajaí/SC e é mãe-solo de 2 Alice Lótus (9 anos) e Miguel Adonai (1 ano e 10 meses). Ela é oceanógrafa socioambiental e mestre em meio ambiente e desenvolvimento, além proprietária da Odoyá, empresa de cosméticos naturais e aromaterapias

     
    Leia também: Mitos e verdades: surf, gravidez e maternidade
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